O unicórnio é definido como uma criatura mitológica rara que simboliza a força e a pureza e geralmente é representado pela figura de um cavalo branco com um único chifre. No universo das startups, unicórnio é a empresa que consegue alcançar um valuation (valor de mercado) acima de 1 bilhão. Tanto na mitologia como no mundo dos negócios, encontrar um unicórnio é algo extraordinário. E para aqueles que acreditam em receita pronta, desistam. Cada negócio é único e como tal deve ser encarado, com o ineditismo e cautela, independentemente da experiência de mercado do empreendedor.
Em minha trajetória de mais de 19 anos investindo em startups, tive a oportunidade de acompanhar centenas que conseguiram um grau de maturidade e sucesso no negócio e outras que, por um erro de gestão ou falta de investimento, não sobreviveram aos dois primeiros anos de operação. O que essas startups poderiam ter feito de diferente? Não sei. Resolvi inverter o questionamento e analisar os casos de sucesso. Cheguei a conclusão que existem dois pontos principais que fazem toda a diferença na hora de montar um negócio e, principalmente, se tornar um unicórnio.
O primeiro deles, e talvez o mais importante, é existir um mercado de atuação grande ou com um potencial de expansão latente. Não adianta querer inventar a roda. Todas as startups que cresceram exponencialmente até serem apontadas como unicórnios têm esse ponto em comum. Elas não criaram seus mercados, mas apresentaram soluções dentro de um gap existente e que não era resolvido pelas empresas tradicionais. Posso citar como exemplo a brasileira 99, que nada mais é do que uma versão do aplicativo Uber que ganhou o mercado nacional. Vejam, ambas escolheram um serviço que já existia, mas apresentaram uma nova forma de fazê-lo.
Isso me leva ao segundo ponto que pode ser surpresa para muitos. Não é a inovação que influencia o sucesso de um negócio. O segredo para se tornar um unicórnio está em inovar a operação, ou seja, prezar pela excelência da execução da sua empresa é mais importante do que ter uma ideia inovadora. E se tratando do mercado brasileiro, é preciso uma dose extra de resiliência para vencer todos os obstáculos logísticos, burocráticos e legislativos que dão ao empreendedor um grau de complexidade maior que em outros mercados, como dos Estados Unidos.
Outro mito que deve ser desconstruído é a questão da idade do empreendedor. O que mais vejo são executivos com mais de 35 anos a frente de startups lucrativas, pois eles possuem conhecimento de mercado necessário para despertarem mais segurança na hora de atrair investidores qualificados. Mesmo em mercados mais maduros, como nos Estados Unidos, por mais que se tenha um empreendedor jovem à frente de uma startup, seu time é sênior. E nessa corrida de unicórnios, quem se preocupa com o concorrente também não chega lá. Isso porque o desafio de fazer o negócio crescer sem perder em qualidade na operação é tão grande e exige tanto esforço, que os empreendedores simplesmente não podem focar em outra coisa senão no processo de melhorias contínuas que leva uma startup ao topo.
*Pierre Schurmann é CEO da Bossa Nova Investimentos.